A Hora dos Ruminantes – José J. Veiga

Sobre “A Hora dos Ruminantes” – Leila Amaral
“A noite chegava cedo em Manarairema. Mal o sol se afundava atrás da serra (…) já era hora de acender candeeiros, de recolher bezerros, de se enrolar em xales. A friagem até então contida nos remansos do rio, em fundos de grotas, em porões escuros, ia se espalhando, entrando nas casas, cachorro de nariz suado farejando (…) palpites de sapos em conferência, grilos afiando ferros, morcegos costurando a êsmo, estendendo panos pretos, enfeitando o largo para alguma festa soturna. (…). A água cochichava debaixo da ponte, fazendo redemunho nos esteios, borbulhando, espumando. Um arzinho frio subia em ondas, trazendo cheiro de areia e folhas molhadas. Sapos e grilos competindo, donos da noite” (José J. Veiga).
Percebemos que a Manarairema que o autor descreve revela alguns aspectos peculiares que nos levam à percepção de que se trata de um espaço, de um lugar, pequeno lugarejo no mundo rural. Os elementos da paisagem em que o sol afundava atrás da serra  nos indicam que se trata de um vale, portanto, de um lugar incrustado num ponto em que seus limites são estabelecidos por serranias que se interpõem na visão do “para além” de outras plagas, de outras possibilidades. O ar, as cores, as sensações, o clima, os sons proporcionados pelos seres habitantes do crepúsculo provoca-nos uma sinestesia que só a sente quem já vivenciou essa beleza rústica interiorana, uma sensação de déja vù provinciano.   Mas a tranquilidade desse anoitecer em Manarairema é quebrada pela possível chegada de cargueiros que vinham descendo a estrada, quase casados com o azul geral, gerando uma expectativa nos moradores pois poderiam estar trazendo mantimentos, artigos escassos como toucinho e sal.